Perdi o endereço dos meus sonhos.
E agora, aonde vou?
terça-feira, 23 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Amores amargos por Nina
Todo dia, quando meia tarde havia morrido e o relógio tremia cansado, eu seguia Nina até a cozinha para assisti-la passar o café. Gostava de reparar seus vestidos e as estampas dos lenços que trazia na cabeça. Podia contar, saindo dele, vinte ou menos fios dourados desobedientes dos cabelos que escorriam como água escapulindo das mãos, cheguei a supor que ela os deixava vazar assim para não manter a nuca totalmente nua.
Nesta tarde, usava um vestido pintado a uma cor crua, de tom pastel suave e a borda arrematada de renda branca bordada a mão. O lenço, opunha-se a composição neutra de todo corpo, era um de seus mais coloridos, chegando a embaralhar os olhos a estampa azul, vermelha, amarela e roxa.
Eu analisava Nina aprontar a bancada e ganhar espaço com gestos clássicos de bailarina, mas não creio que ela já estivera na ponta dos pés ou sobre um palco. Via-a esticar o braço e firmar os dedos por entre o pano e a chaleira, enquanto a fumaça aquecia a cozinha. Neste momento sentia medo, mas vá, não assim um MEDO, apenas uma ligeira preocupação. Na minha mente, a qualquer instante ela poderia perder o equilíbrio, escorregar no chão e banhar-se ponta a ponta com aquela água fervente, e Nina nunca mais seria Nina, com o rosto queimado, a vida em carne viva e a graciosidade deitada eternamente sobre uma cama de colchão mole. Mas nunca acontecera. Eu sabia o quanto cuidadosa ela se portava, além de achá-la belíssima.
Meu estômago roncava quando o aroma do café fazia malabarismo pelos ares da casa, e eu respirava fundo para levar o cheiro até a base dos pulmões, onde pensava tentava retê-lo por dias e dias. E Nina gritava comigo tal qual uma velha demente, mesmo que eu não a achasse velha e demente: "Vá lavar essas mãos imundas, menino! E volte já para o café." Em dois exatos segundos eu ia e já voltava e sentava na beira da mesa esperando ser servido com leite e café preto de Nina. Ela vinha valsando na minha direção, segurando a bandeja de pães frescos, depois trazia o bolo de fubá, depois o leite e o café. Este era como seu perfume em minha vida, um sinal para que eu estivesse posicionado há tempos naquela cadeira. Não perderia a hora do espetáculo, pois era incrível todo aquele ensaio de seu corpo.
A mesa ficava organizada de uma forma bela, sentia-me, por vezes, luxuoso. E Nina preparava meu alimento, e abaixava-se um pouco trazendo a cintura próxima à mesa. Confesso que o decote permitia-me obter uma visão ímpar da linha de seus seios, era linda. Nina era linda. Meu coração palpitava. Eu a olhava e bebia rapidamente do copo à minha frente. "huuuuummm", gemia fazendo careta e punha-me a rir. Ela devolvia a risada. "Menino bobo, céus". Cá entre nós, eu só tomava o café para agradá-la, pois a amava. Só não sabia qual amor sentia, ou todos amores, ou de mãe ou mulher. Não sabia se pedia benção ou carícia, se a beijava na testa ou na boca.
Nesta tarde, usava um vestido pintado a uma cor crua, de tom pastel suave e a borda arrematada de renda branca bordada a mão. O lenço, opunha-se a composição neutra de todo corpo, era um de seus mais coloridos, chegando a embaralhar os olhos a estampa azul, vermelha, amarela e roxa.
Eu analisava Nina aprontar a bancada e ganhar espaço com gestos clássicos de bailarina, mas não creio que ela já estivera na ponta dos pés ou sobre um palco. Via-a esticar o braço e firmar os dedos por entre o pano e a chaleira, enquanto a fumaça aquecia a cozinha. Neste momento sentia medo, mas vá, não assim um MEDO, apenas uma ligeira preocupação. Na minha mente, a qualquer instante ela poderia perder o equilíbrio, escorregar no chão e banhar-se ponta a ponta com aquela água fervente, e Nina nunca mais seria Nina, com o rosto queimado, a vida em carne viva e a graciosidade deitada eternamente sobre uma cama de colchão mole. Mas nunca acontecera. Eu sabia o quanto cuidadosa ela se portava, além de achá-la belíssima.
Meu estômago roncava quando o aroma do café fazia malabarismo pelos ares da casa, e eu respirava fundo para levar o cheiro até a base dos pulmões, onde pensava tentava retê-lo por dias e dias. E Nina gritava comigo tal qual uma velha demente, mesmo que eu não a achasse velha e demente: "Vá lavar essas mãos imundas, menino! E volte já para o café." Em dois exatos segundos eu ia e já voltava e sentava na beira da mesa esperando ser servido com leite e café preto de Nina. Ela vinha valsando na minha direção, segurando a bandeja de pães frescos, depois trazia o bolo de fubá, depois o leite e o café. Este era como seu perfume em minha vida, um sinal para que eu estivesse posicionado há tempos naquela cadeira. Não perderia a hora do espetáculo, pois era incrível todo aquele ensaio de seu corpo.
A mesa ficava organizada de uma forma bela, sentia-me, por vezes, luxuoso. E Nina preparava meu alimento, e abaixava-se um pouco trazendo a cintura próxima à mesa. Confesso que o decote permitia-me obter uma visão ímpar da linha de seus seios, era linda. Nina era linda. Meu coração palpitava. Eu a olhava e bebia rapidamente do copo à minha frente. "huuuuummm", gemia fazendo careta e punha-me a rir. Ela devolvia a risada. "Menino bobo, céus". Cá entre nós, eu só tomava o café para agradá-la, pois a amava. Só não sabia qual amor sentia, ou todos amores, ou de mãe ou mulher. Não sabia se pedia benção ou carícia, se a beijava na testa ou na boca.
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